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Walcyr Carrasco iniciou a carreira profissional como jornalista e trabalhou nas redações de grandes jornais e revistas. Aos 28 anos, publicou seu primeiro livro, ‘Quando Meu Irmãozinho Nasceu’. Depois, escreveu ‘Vida de Droga’, ‘Em Busca de Um Sonho’, ‘Anjo de Quatro Patas’ e ‘Juntos para Sempre’. São mais de 60 títulos escritos. Como dramaturgo, assinou peças de sucesso como ‘Batom’ (1995) e ‘Êxtase’ (1997), pela qual recebeu o prêmio Shell de melhor autor. Em 2008, Walcyr ingressou na Academia Paulista de Letras e, em 2010, ganhou o prêmio da União Brasileira dos Escritores pela tradução e adaptação de ‘A Megera Domada’, de Shakespeare. Para a TV, começou a escrever no final da década de 1980. A primeira novela na Globo foi ‘O Cravo e a Rosa’ (2000), dirigida por Walter Avancini, com quem repetiu a parceria em ‘A Padroeira’ (2001). As novelas ‘Chocolate com Pimenta’ (2003), ‘Alma Gêmea’ (2005), e ‘Êta Mundo Bom!’ (2016), dirigidas por Jorge Fernando, consagraram o autor no horário das seis. A estreia na faixa das sete foi com a comédia romântica ‘Sete Pecados’ (2007). Depois, escreveu ‘Caras & Bocas’ (2009) e ‘Morde e Assopra’ (2011). A primeira novela das nove foi ‘Amor à Vida’ (2013), grande sucesso de crítica e público. Para a faixa das onze, Walcyr escreveu ‘Gabriela’ (2012) e ‘Verdades Secretas’ (2015), que conquistou o Emmy Internacional, além do Troféu APCA e do Prêmio Extra de Televisão como Melhor Novela. Voltou ao horário das nove com ‘O Outro Lado do Paraíso’ (2018). Além disso, recebeu o Prêmio Jabuti, em 2017, pela tradução e adaptação de Romeu e Julieta.
A volta por cima de Maria da Paz, com sua força e coragem, é o ponto central da novela. Que mensagem você pretende passar para o público?
A novela traz uma mensagem de superação, coragem, esperança, amor e muita emoção. Maria da Paz é a mulher que tem garra, fibra, começa a vender pedaços de bolo na rua e constrói uma fábrica e uma rede de confeitarias. Também é frágil afetivamente e apaixonada. A trajetória dela reflete a vida de muitas mulheres brasileiras. Eu quero fazer uma novela com uma mensagem positiva que faça bem ao público, que seja um momento positivo no dia dele e que dê forças para a batalha diária.
Para a personagem Maria da Paz, você se inspirou em alguém? E tem alguma história da infância envolvendo bolos, doces?
Minha avó paterna, Rosa, era uma grande cozinheira, fazia doces maravilhosos. Então cresci com esse amor por ela e seus doces. Adoro fazer bolos, ver a massa sendo batida, adoro comer os bolos! Cozinhar é muito dentro do meu universo. E eu tenho um apreço especial pela culinária. Mas também lido com a ideia de que as pessoas podem subir na vida utilizando aquilo que já sabem, um dom, e a vontade de lutar e trabalhar. Novamente, é a mensagem de esperança, da certeza de que todos podem encontrar seu lugar no mundo.
A novela conta a trajetória de Maria da Paz e apresenta outras personagens femininas fortes. Você costuma trazer para suas obras essas figuras. Pode falar um pouco sobre isso?
Todas as minhas tramas, ou a maioria delas, destacam a força do feminino. Em ‘A Dona do Pedaço’, elas são mulheres vigorosas, que se impõem dentro de um universo violento, onde a morte integra a rotina delas. Por exemplo, Dulce, sendo interpretada de maneira incrível por Fernanda Montenegro, fica entre o amor extremo pela família e uma matriarca que comanda um clã de justiceiros, com um pulso inigualável. Eu sei que esse personagem vai surpreender, e estou muito satisfeito que a Fernanda tenha aceitado esse papel.
Em ‘A Dona do Pedaço’, através das personagens Virgínia, Josiane e a stalker Kim, o universo da moda e das digital influencers está em destaque. Qual a sua relação com este universo? Se inspirou em alguma digital influencer para construir as personagens?
Eu acho apaixonante esse mundo dos influenciadores digitais e da internet em geral. Como sou muito conectado, fui verificar como as coisas acontecem, como funcionam… Foi um trabalho de reportagem, praticamente. Vou mostrar Jô (Agatha Moreira) comprando seguidores. Isso acontece muito! Descobri outras coisas também, mas só no decorrer da novela.
Entrevista
com a diretora artística Amora Mautner
Amora Mautner estreou na TV Globo em 1995, como assistente de direção de ‘Malhação’. Depois vieram ‘Salsa e Merengue’ (1996), ‘Anjo Mau’ (1997), ‘Dona Flor e Seus Dois Maridos’ (1998), ‘Labirinto’ (1998) e ‘Andando nas Nuvens’ (1999). A partir daí, assumiu o posto de diretora nas obras: ‘O Cravo e a Rosa’ (2000), ‘Um Anjo Caiu do Céu’ (2001), ‘Desejos de Mulher’ (2002), ‘Agora É Que São Elas’ (2003), ‘Celebridade’ (2003), ‘Mad Maria’ (2005), ‘JK’ (2006), ‘Paraíso Tropical’ (2007) e ‘Três Irmãs’ (2008). ‘Cama de Gato’ (2009) marca a sua estreia na direção-geral de novelas. Depois disso, vieram ‘Cordel Encantado’ (2011), ‘Avenida Brasil’ (2012) e ‘Joia Rara’ (2013), que conquistou o 42º Emmy Internacional, em 2014. A diretora também esteve à frente das séries: ‘As Cariocas’ (2010), ‘Eu Que Amo Tanto’ (2014) e ‘Assédio’ (2018). ‘A Regra do Jogo’ (2015) foi o primeiro trabalho como diretora artística.
Qual a sua expectativa para ‘A Dona do Pedaço’, trabalhando ao lado de Walcyr Carrasco?
Walcyr é um autor muito amplo. Escreve, traduz livros, faz peças, vai na estreia e escreve essa novela, que eu estou considerando maravilhosa. Não consigo parar de ler. Estou muito feliz de ter a chance de estarmos juntos porque ele tem uma unicidade, se comunica com todo o Brasil de uma forma muito específica. Sabe o que o público gosta. É uma sorte para quem trabalha com ele porque é como se ele ouvisse e trouxesse isso para perto da gente. Leio as cenas e me emociono, projeto no público e penso: ‘não tem como não se emocionar com isso’. Estou feliz com a oportunidade de ter esse texto nas mãos.
Fale um pouco sobre a linguagem e a estética escolhida para essa novela.
Fomos para uma estética mais pop no sentido de ter brilho, cor e alegria. A forma que vem, desde a fotografia, paleta de cores até as texturas, a volumetria, eu comecei a pensar a partir do tom e da dramaturgia que tem ali. Como a história é de esperança, felicidade, otimismo, luta – principalmente no início por causa da história das duas famílias rivais –, traduzimos isso em imagem com uma estética mais épica, realista em alguns momentos. É uma novela realista, cotidiana, mas tem um tom épico, que está na natureza dos personagens. A Maria da Paz (Juliana Paes), quando sai do interior e vai para São Paulo, tem uma trajetória de uma grande heroína. Isso já é em si algo épico.
Quais foram suas principais referências?
Minhas referências foram os filmes de melodrama. Tem um diretor que se destaca entre todos os maravilhosos, que são muitos, que é o Douglas Sirk. Revi todos os filmes dele, com foco na dinâmica do melodrama para entender o tom, com a intenção de trazer isso para hoje em dia. Porque o melodrama desta época a que me refiro é um pouco mais antigo. Estamos tentando achar esse tom para que o público receba essa novela e se emocione diariamente.
Em ‘A Dona do Pedaço’, a gente vai ter personagens fortes e determinadas como a Maria da Paz, por exemplo. É uma novela onde o feminino tem protagonismo, certo?
Essa novela é bem contemporânea e moderna. Walcyr é um autor que carrega essa marca. Ele é muito conectado e traz isso para o texto e para o público. Nesse momento, a gente tem uma novela especialmente feminina, com força, com potência. Temos uma heroína que vai à luta pelo que quer, com bons valores, com bondade no coração e vence. Além disso, é uma novela que começa no matriarcado. Na família dela, a grande chefe é a Dulce, que está sendo interpretada por Fernanda Montenegro, nossa sacerdotisa das artes. É uma honra à parte trabalhar com ela.
A novela foi gravada no interior do Rio Grande do Sul e em São Paulo. O que foi determinante para a escolha dessas cidades? Gravar em diversas locações traz mais realismo para o espectador? O que isso agrega de positivo do ponto de vista da direção?
Locação é fundamental para tudo porque contextualiza de uma maneira muito orgânica o que está acontecendo. Não só do ponto de vista do que representa em imagem, mas também da atuação dos atores que estão respirando e sentindo aquela outra atmosfera. Vemos os hábitos reais, a parede real, ela tem vida, textura, chão. Escolhemos o Sul também porque essa região tem um céu muito baixo, sem nada obstruindo. Então, ele “morre” muito embaixo. Queria ter isso para poder fazer uns landscapes (composição de imagens) épicos e trabalhar o matte painting, uma técnica de computação na qual a gente usa colagens de imagens reais. É como se a gente pegasse pedaços perfeitos de uma imagem real, como céu ideal, o mar ideal e a montanha ideal, e colasse tudo numa imagem que não existe. Para isso, preciso ter uma área grande, ampla, para o Tony Cid, supervisor de efeitos especiais, um artista talentoso que está comigo nessa novela, poder atuar. Precisamos ter uma natureza real para poder fazer essas colagens e chegar à imagem ideal. Também fomos em busca de uma luz mais filtrada para fazer a nossa paleta de temperatura e de luz.
Sobre a trilha sonora, teremos grandes destaques, algumas regravações… O que você pode nos falar sobre isso?
A abertura vai ser uma regravação de “Está Escrito”, interpretada por Xande de Pilares. A trilha sonora traz um conceito popular conversando com western contemporâneo e indie, além de trilha original produzida por Eduardo Queiroz, que assina a produção musical. Também teremos versões originais e outras novas para músicas como “Cheia de Mania” e “Evidências”, sendo a última o tema do casal Amadeu e Maria da Paz. Acho que vai ficar muito legal. Estamos muito felizes. É uma novela que, também na trilha sonora, traz otimismo. Mesmo tendo essa coisa de sofrimento, tem uma esperança no fim.
O que o público pode esperar de ‘A Dona do Pedaço’?
As pessoas vão poder ver um folhetim humano, cheio de reviravoltas, com emoção, mensagens positivas.
Entrevista divulgada pela TV Globo